quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Carnaval


É carnaval e pelo menos no Rio de Janeiro, 90% da população do expurgável Estado da Guanabara, diz estar indo pra cidade de Cabo Frio. Outros 5% são de pessoas que dizem que vão, mas na verdade, vão para um sítio alugado em Xerém. O restante é composto pelos motoristas de ônibus, padeiros e eu. Aquela porcentagem insólita que não viaja no carnaval porque diz que vai ter que trabalhar ou só não tem dinheiro mesmo.

Se Deus quisesse castigar essa etnia controversa e malevolente, essa seria uma boa hora de lançar um meteorito sobre a cidade, da mesma forma que ele fez com Sodoma e Gomorra, já que todo Rio de Janeiro vai estar localizado num raio de 403Km2. Como a últma vez em que Deus agiu de forma politicamente incorreta foi quando fechou o Mar Vermelho em cima dos egípicios, as chances do Cabofolia ser um fracasso são remotas.

Enquanto toda a população do Rio de Janeiro estará tomando banho de balde, tendo em mente que o abastecimento de água do condado de Cabo Frio é afetado em todas as datas festivas pelo excesso de contingente, eu pretendo estar em minha casa fazendo sexo. Com qualquer pessoa que não possua excrupulos ou pudor, a exceção dos motoristas de ônibus e padeiros.

O problema em fazer sexo é a tolerância de 1 a 3 fodas que eu tenho para com cada parceira que eu arrumo. Não passo do quinto encontro devido a total falta de compromisso com a verdade e minha incapacidade de ser absolutmente claro das minhas intenções. Eu não sou um bom amante. Se você promete amor, dê amor.

Enquanto isso no Jornal Nacional...
“Previsão de chuva para os 4 dias de carnaval”

Pelo menos, água não vai faltar.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

domingo, 20 de janeiro de 2008

Introdução


Meu nome é Rafael e tenho menos treze anos de idade. A lógica é simples. Soma-se apenas até os dez primeiros anos de vida. Se a mortalidade infantil não te leva, então a contagem se inverte. Um ano de vida a menos para cada um que você completa. Simples assim. Eu tenho um avô que fugiu do quartel e migrou para não ir à Guerra. Dignidade nunca foi o forte de minha estirpe e tem sido assim, pouco nobre, desde a desagradável década de trinta.

Eu trabalho digitando código de barras. No mundo, para cada grupo de 10 pessoas, 1 homem deve ser plenamente realizado. Ele é feliz. Ele é notável. Ele é incrível. Ele não é digitador de códigos de barra. O estabelecimento onde eu trabalho abre ao público as nove da manha, mas eu tenho que chegar as oito para ajudar o faxineiro. E todos os dias vou ao banheiro e fico fingindo que estou cagando até as oito e quarenta e cinco. Enquanto,na verdade, durmo. Depois espano o aparelho de fax e passo as oito horas seguintes do meu dia ouvindo Radiohead. Ouço Radiohead, digito código de barras e atendo o telefone. Ouço Radiohead, atendo o telefone e digito código de barras. E ele diz: "You all I Need". E eu acredito.

Eu tenho uma mãe, uma cicatriz e duas irmãs. A minha mãe é desagradável sempre, mas quando limpa a casa ela fica bem mais desagradável. Uma irmã eu gosto muito e não vejo nunca. A outra eu não gosto nada e vejo sempre. Ela tem 24 anos e gastou, em média, 23 deles agindo de forma completamente imbecil e ultrajante. A minha cicatriz tem uns 3 cm e possivelmente devo ter umas 7 versões de como arranjei-a. Depende pra quem eu conto.

Legalmente eu não tenho pai a uns 7 anos. Mas legalmente eu também não posso dirigir, financiar o proxenetismo e nem praticar a concupiscência. Então eu não ligo.

Fui batizado na igreja católica, em alguma capela com nome de santo ou de alguma Maria. É lógico que eu acredito em Deus, como todo ser humano dotado de habilidades imorais e frustrantes. Todo mundo precisa de alguém pra por a culpa de seus fracassos e amarguras. E tem sido assim, pouco nobre, desde a desagradável década de 80. Onde encontro-me, desde lá, afogado neste imenso már árido em que vivo.